Durante muitos anos, as atividades relacionadas à segurança pública eram entendidas como ocupações masculinas, uma vez que se tratavam de funções que exigem força física, e a mulher ser retratada pela sociedade, até então, como sendo o ‘sexo frágil’. Contudo, em Pernambuco, esse pensamento começou a mudar na prática a partir de 1983, quando ingressaram as primeiras policiais femininas na Polícia Militar do Estado.
Uma dessas mulheres que veio para quebrar paradigmas é a coronel Valdenise Salvador, que adentrou nas fileiras da corporação em 1985 como soldado e, quatro anos depois, em 1989, passou a frequentar o Curso de Formação de Oficiais (CFO). Atualmente ocupando o posto mais alto do oficialato, ela chefia o Centro de Assistência Social (CAS) e também é a Presidente da Fundação Centro de Assistência Social da PMPE. Apesar do seu jeito doce e humano de lidar com todos, ela é taxativa quanto a força da mulher “se você acha que mulher é o sexo frágil é porque não conhece a mulher policial militar”, rebate com firmeza.
E, de fato, ela é uma fortaleza. Formada em psicologia, pedagogia e estética, aos 17 anos ela atravessou algumas barreiras em busca de sua independência.”Prestei concurso para PMPE após ser aprovada em uma faculdade particular. Como meu pai não aceitava pagar meus estudos, pois esperava que eu passasse em uma pública, fui buscar minha independência financeira para arcar com eles”, revela.
Com irmão, pai e avô militares, ela sentiu resistência dos familiares, que não aceitavam que ela adentrasse na Corporação. “Meu pai era militar, então sabia das dificuldades que eu enfrentaria em um ambiente predominantemente masculino. A gente mulher tinha que cortar o cabelo curto e assinar um termo de compromisso para não engravidar por dois anos. Meu pai chegou a ficar dois anos sem falar comigo após eu decidir seguir na carreira mesmo ciente dos obstáculos que enfrentaria”, relata.
Dentro da Corporação, ela aponta como sendo uma das maiores barreiras a ascensão na carreira. “Em 1985 não tínhamos ainda todos os direitos adquiridos. Hoje a PMPE é minha segunda família, desde o inicio nós fomos bem acolhidas, porém, nossa grande dificuldade foi a ascensão profissional, pois éramos de quadros separados e perdemos muita antiguidade quando houve a unificação dos quadros. Contudo, hoje a gente entende que foi um avanço, um reconhecimento imenso, deixou de estagnar nossa carreira. Hoje trabalhamos em todo estado, em todas as funções e setores”, comemora.
Nesses 35 anos de caserna, as conquistas da Cel Valdenise Salvador dentro e fora da Corporação foram diversas, mas todas só vieram após ela não desistir nunca de seus sonhos. “Tudo na vida é aprendizado, nada é fácil, mas também nada é impossível. Se tiver um sonho, lute por ele até conseguir. Minha vida sempre foi de muita luta, muita batalha, perseverança e muita fé, de acreditar que eu vou conseguir alcançar aquele objetivo”, finaliza.
Foto: Cb Elton Camilo – Texto: Sd Renata Martins • 5a EMG • ASCOM PMPE